Lucas
FOTOGRAFIA: FÁBIO LAMOUNIER + RODRIGO LADEIRA | TEXTO: FÁBIO LAMOUNIER | VIDEO: GUILHERME SANTIAGO
08082017
Conhecemos o Lucas há mais tempo, pelo Alfredo e o Moreno, dois amigos próximos nossos. Seguido o projeto, eles sugeriram de o contactarmos para fotografar. Ele topou, e um dia nos encontrou em nosso antigo estúdio em Belo Horizonte. Muito tímido, sentou-se numa cadeira e comecamos ali a entrevista e as fotografias. Nos contou que foi despedido de seu primeiro emprego, onde sofria homofobia por parte da gerente de onde trabalhava – só depois de um tempo foi perceber que esse havia sido o motivo.
“Eu percebi que gostava de meninos, e isso não era um tabu pra mim. Tenho um irmão mais velho que é gay também, então pra mim sempre foi algo natural, até eu crescer e ver que não é normal para a sociedade. Fui só perceber que isso era algo mais sério depois que eu cresci e comecei a sofrer preconceito, porque em casa sempre foi muito tranquilo.” Perguntei como era a relação com os pais, e mencionou a mãe: “Minha mãe chegou a falar aquelas coisas, que queria que eu não fosse (gay), que eu desse netos para ela. No início isso acaba com a gente, mas depois passa. Eu era muito bem resolvido, então nunca sofri tanto com isso. Mas sempre passei por aquelas piadinhas de ‘viadinho’. Nunca era escolhido para o time de futebol, mas ia jogar vôlei lindo. O problema estava nas pessoas. O mais engraçado era isso, eu não sofria por nada, mas todos ficavam botando culpa, problemas, em mim.”
Perguntei então das primeiras experiências, e comentou do primeiro caso que teve. “Eu tinha uns 18 anos, esse cara ia de vez em quando em saunas e um dia me chamou pra ir com ele. E foi demais! senti que foi quando entrei mesmo no meio, talvez. Eu só sabia que era gay, mas não tinha nenhum amigo gay, não convivia. Hoje vejo que ali é um clima muito diferente, outra energia do que estamos acostumados. Mesmo com balada gay e balada que não é gay, a gente imagina o bar um lugar tranquilo, mas ali é um clima mais pesado. Todo mundo tá querendo sexo, e não é só conversar e beber só. Tem muita gente escondida, casada. Dá gente de todo tipo, desde novinhos que você pensa ser menor de idades, até senho que você nunca imaginaria que estaria ali, que poderia ser seu avô, ou zelador do seu prédio. Todo mundo parece que vai escondido, como se fosse proibido, por isso sinto que o clima é meio pesado. Mas ao mesmo tempo tem algo legal.”
Perguntei, por último, sobre relação com o corpo. “Me sinto privilegiado e objetificado, na adolescência passei por uma fase que achava meu corpo estranho, nariz grande demais… essas coisas que passam com a maturidade, mas em contrapartida, depois que fiquei seguro comecei a ver que grande parte da sociedade ainda tenta me enquadrar em estereótipos héteronormativos o tempo todo, principalmente por eu ser um homem negro. (…) cabelo era o que mais pesava na minha relação com meu corpo, trazia algumas questões. Muita gente me falava pra eu alisar, pra relaxar o cabelo, ou então raspar, porque do jeito que tava não ficava bom. Ou pra eu trançar, fazer algo bem afro. Ficava aquela coisa de extremos, ou fazia algo pra ficar bem diferente e legal, ou então não ia ficar bom. Sinto como se quisessem embranquecer meu cabelo. Deixar ele menos negro, menos afro.”