Felippe e Marlon
Fotografia: Fábio Lamounier + Rodrigo Ladeira | Texto: Fábio Lamounier e Felippe + Marlon
24072015
De todas as vezes que visitei São Paulo, não houve uma única que não me deixei revisitar a imponente e alumiada Avenida Paulista. Símbolo máximo da cosmópole, de marchas ativistas a agressões conservadoras; das construções que se perdem de vista e dos pequenos comerciantes. Do trânsito que, aos poucos, consome outras capitais, mas que divide o convívio com milhares de anônimos, caminhando e pedalando sobre os seus passeios ao seu próprio tempo – ela sempre está entre um pêndulo que caminha por seus extremos. De todas as revisitas, porém, esta foi a única vez que a vi sob uma ótica fora de seu poderio de imagem: frágil, vazia, fria – e, por isso mesmo, tão humana.
✗ Of all the countless times I’ve been to São Paulo, none of them I skipped visiting the bright and grand Paulista Avenue. The biggest symbol of the city, also scene of several activists marches and conservative attacks; The place where the huge buildings shares space with the little businessmen; The city owns the traffic that nowadays is seen in all other major cities, but also the living beings that walk through its streets at their own time. The ave is under a pendulum between those opposites. Of all those countless times, however, today was my only and first time I’ve seen this avenue off the mightiness it carries: fragile, empty and cold – and, because of this, so human.

O Felippe e o Marlon, portados só de adrenalina e coragem, propuseram o registro. Essa mesma adrenalina que nos sobe o rosto, tremula a mão e dilata o tempo – aqueles tão poucos segundos se tornam deliciosa e assustadoramente intermináveis. Os poucos olhos vidrados na rua multiplicam-se, assim como os cliques repentinos, o medo, o suor e, desta vez, o êxito. Conseguimos, os quatro, neste ínfimo espaço de tempo, registrar um ato simbólico, mas libertário. Pôr-se nu sobre a avenida é evidenciar a fragilidade das estruturas que representa: há de ser utópico e repensar uma cidade nua dos tantos preconceitos, verdadeiramente amorosa mesmo sob o céu cinza; complementada pelas diferenças, respeitosa pela diversidade. Há de ser. Mas a calma, esta também que dilata o tempo, dita: quem sabe amanhã os dias utópicos hão de ser apenas reais.
✗ Felippe and Marlon, carrying just the adrenaline and courage, had the idea of this photography. This same adrenaline that covers our faces, shakes our hands and dilates time – those little seconds becomes frighteningly and excitingly endless. The few eyes wandering by the street multiply quickly , as well as the shoots, fear and sweat. We’ve made, in so little time, a shoot of un symbolic act, but most important a free act Being naked at the avenue shows off its own and also the city weakness: We have to be utopian and rethink a city naked of its prejudices, lovable even under the gray sky; complete just because of the diferences, and respectful cause of the diversity. It is to be one day. But the patience also dilates the time: maybe tomorrow, who knows, days are no longer utopian, but just real.

Ambos colocaram, em suas próprias palavras, essa mesma experiência que ambos nos proporcionaram. Aos dois, à noite, à coragem: muito obrigado!
“Chicos. Ticos. Garotos. Somos todos Chicos! Garotos virando homens. Todos os dias! Homens que gostam de outros homens. Marlon e eu (ok, parece nome de filme), é a minha história de amor. Um amor que nasceu via aplicativo de pegação e, dois anos depois, virou um amor livre, intenso e a relação mais sincera que já tive na minha vida.
No lugar do sentimento de posse, estabelecemos o sentimento de liberdade. Somos livres… mas para continuar nos amando mais a cada dia. Quando começamos a nos assumir para os nossos amigos e pessoas próximas, todos diziam: “Nossa, mas vocês são tão diferentes um do outro!”. Sim, somos diferentes, por isso mesmo, somos complementares. Tamanhos, proporções e gostos diferentes. Vontades, sonhos e fome por liberdade iguais.
Escolhemos posar juntos na avenida Paulista. O mesmo lugar onde aconteceu a tal lampadada, um ato de intolerância contra gays e contra a humanidade. Ficamos nus: livres de roupas, preconceitos ou temores. Clicks que representam um mundo ideal no qual possamos andar juntos de mãos dadas, nos abraçar ou beijar sem ter medo. Um mundo em que possamos ser nós mesmos e fazer o que mais nos dá prazer. Amar!
A “lampadada da avenida Paulista” acontece todos os dias em diversos cantos de São Paulo, do Brasil e do mundo, infelizmente. Lampadadas em forma de insultos, agressões físicas e psicológicas. Somos agredidos por sermos gays, por sermos nós mesmos. Chicos que amam outros Chicos, Joãos, Pedros, Caios, Rodrigos, Josés, Ricardos, Thiagos e tantos outros. E isso tem que parar! Parar para que o amor possa continuar livremente.”
por Filippe e Marlon
